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Saturday, September 11, 2004

So, to add insult to injury, I just learned today that someone I care for isn't really on the upside lately both on the physical but mostly on the psychological level. Things aren't really going great these days and I don't I can blame anyone for it really. Everything grows somehow between ill relationships between people at some many different levels and I wonder what is so difficult about everyone just leaving space for everyone else... I see violations of this simple law everywhere I look and it makes me sad.

Anyway, we should keep our head up. The trick, as I recalled so many times during past years, is to keep breathing.

Keep breathing. And everything will look better then.

Friday, September 10, 2004

Life hasn't been good ever since coming back from Belgium. Do I see a pattern here? Maybe that's also why I haven't kept up with writing this journal. Simply no mood to type any word further than strictly necessary for surviving purposes.

Anyway, to make a long story (very) short, I happened to have dinner with Yalcin and Tiago in my last evening abroad this time. We had some good italian (pizza for me and yalcin and cannelonni for Tiago) and walked a bit around the city, Yalcin showed up his school and all. Unfortunately we didn't have much time as our flight was due next morning at 7am which meant getting up around 4.30am. Nasty. We still had time for a quick picture, for posterity which is featured in the bottom of this post.

The flight back home was quite uneventful aswell but a lot more comfortable for me and things weren't too unpredictable for me as they were the first time round. I actually enjoyed take off and landing to the fullest and all the magnificient view a flight passenger can usually get from the plane window. The bad bit was forgetting my Shawshank Redemption poster in the plane and I just realized it after I claimed my luggage and was actually getting off the passengers only area. Which means, too late. I got in touch with Lost & Found, waited for some 15 minutes and got told to come back later. So I did, in the afternoon, but still, it hadn't come up. Either the airport officials are blind (pretty much like myself for having left it in the damned plane) or else someone found it cute and decided to steal it. Nice.

Then ever since stepping out of the airport, my life has pretty much sunken for reasons not even worth mentioning here. I'm slowly trying to get back on my feet and people insist in beating me down. What am I doing wrong?

Lots of translation work - still finishing the 2nd part, it's almost done, 48 strings to go and those will surely (I hope!) be killed by tomorrow. Woke up today (Friday) to find 6 emails waiting in my personal inbox, 4 of which Football Manager 2005 related. Basically I've had to come up with a new website for the portuguese research, from scratch, and send every translated and untranslated bits I have upstream to Sega.

Ach.



Yalcin on the left and me... on the right I guess.

Sunday, September 05, 2004

Domingo, 5

Para não variar, levantar a meio da manhã, com a diferença que hoje o pequeno-almoço foi um croissant com manteiga de soja e um leite com chocolate. Como é domingo, o Philippe não vai trabalhar cedo e por isso o pequeno-almoço pode ser mais tarde e, pelo menos para eles, mais bem fornecido. Eu é que não gosto de comer muito logo de manhã.

Até ao almoço passei o tempo a ler e a escrever a entrada do blog para o dia anterior e decidimos fazer umas omeletes com queijo. Ou melhor, decidiu e fez o Tiago, porque eu só agora é que aprendi a fazer, vendo. Eu encarreguei-me das batatas fritas. Antes ele já tinha preparado massa para panquecas (outra coisa boa para fazer depois em casa) e aproveitou-se fritou-se (?) também as panquecas para comer em cima do almoço como sobremesa. Ou seja, o almoço foi bastante saudável: fritos e mais fritos. Pelo menos não destoámos da tradição belga que aparentemente investe em força nos fritos. Existem inclusivamente lojas por aí, chamadas Frituur, que vendem batatas fritas feitas no momento e mesmo outro tipo de fritos. Lá almoçámos, não estava nada mau e cerca de uma hora mais tarde seguimos viagem para Bruxelas.

Entrámos em Bruxelas pela zona do parque de exposições, local onde se realizou a Expo organizada pelos belgas nos anos 50. O monumento (se é que lhe posso chamar assim) que mais salta à vista é uma gigantesca molécula de ferro, com muitos metros de altura e largura, designada Atomium. Não fomos lá dentro, subir escadas nem andar de elevador mas visto cá de fora é de facto impressionante e bem bonito especialmente à noite (ver fotografias do dia no final deste texto). A nossa ideia foi deixar o carro no parque do Atomium, o que não ofereceu qualquer dificuldade, havia vários lugares disponíveis ao longo da avenida que vai dar ao Atomium propriamente dito. Daí apanharíamos o metropolitano, que tem uma estação mesmo ali ao lado para ir ter ao centro de Bruxelas, capital europeia.

Assim fizémos e a impressão com que fiquei assim que cheguei foram na verdade duas: primeiro, que Bruxelas não tem minimamente nada a ver com Amesterdão ou mesmo Antuérpia. Depois que, para capital Europeia, não está lá muito bem cuidada e há muita coisa algo degradante, como por exemplo a estação de metro da Central Station (dos comboios) onde nos apeámos para ir à Grand Place. Em termos de pessoas, o que mais se vê são marroquinos e vários mulheres com lenços na cabeça, de aspecto muçulmano. E enquanto em Antuérpia se fala muito holandês e inglês, aqui, apesar de se estar no coração da Bélgica, fala-se quase só em Francês. Inclusivamente as pessoas de Bruxelas têm bastante dificuldade em falar inglês, ao contrário do norte da Bélgica e Holanda onde falam perfeitamente o inglês. O sistema de metro de Bruxelas não é particularmente complicado. Existem quatro pontos de destino principais (ie. quatro finais de linha) pelo que não estamos propriamente a falar da complexidade do metropolitano de Londres ou Madrid. Foi simples perceber onde estávamos e onde queríamos ir. Mas tem no entanto uma particularidade que nunca vi em Lisboa. Quando chegámos a uma estação onde se dava o entroncamento com outra linha, ao voltar a andar a composição inverteu o sentido de marcha, voltando pelo mesmo sítio de onde veio! O truque está que logo à saída da estação a linha é desviada e então apesar da direcção ser mais ou menos a mesma, a linha em si não é igual. Mas acho que se fosse sozinho e o Tiago não me tivesse dito nada, ficaria com uma grande dúvida na cabeça.

Chegámos então à Central Station e atravessámos a pé o que para mim é provavelmente a estação de metro mais degradada que já vi, bem mais do que qualquer uma em Lisboa. Muita gente a pedir, os túneis bastante sujos, enfim, nada a ver com Antuérpia ou Amesterdão. Fomos directos ao centro, a pé, passámos também aqui por inúmeros restaurantes e pastelarias com esplanada e o que mais vimos foram as famosas waffles belgas com milhões de acompanhamentos diferentes, desde morangos e chantilly, passando por chocolate quente até simples açucar. Chegámos à famosa Grand Place e o cenário, em termos de monumentos que a circundam é majestoso. No centro estava a decorrer um festival de cerveja, com várias barracas para os clientes provarem inúmeros tipos e marcas de cerveja, alguns deles em copos extremamente originais que também podiam ser adquiridos em barracas montadas para o efeito. Mais adiante, numa das ruas que saem da Grand Place vimos então o famosíssimo puto a mijar, o Manneken pis. O Tiago já me tinha alertado que não era nada de especial, e de facto não posso deixar de dizer que foi uma desilusão. Quando se esperaria ver uma estátua de tamanho razoável, do puto a fazer alegremente a necessidade fisiológica no meio de um considerável largo, não. O puto é minorca (não é maior que uma puto de verdade) e está escondido numa esquina. Não fosse os turistas que se aglomeravam para ver, provavelmente passar-me-ia despercebido. Mas nem tudo foi mau! O puto hoje estava vestido, com um uniforme que não faço ideia o que seja mas suponho que nem sempre seja assim, pelo que se calhar acabei por ter alguma sorte. Tirei algumas fotografias e seguimos então o nosso passeio.

Logo de seguida, vimos uma loja que o Tiago me informou ter sido onde comprou uma t-shirt há quinze dias, numa loja de recordações (que vende especialmente camisolas) na esquina de uma rua do centro de Bruxelas. Entrámos e acabei por comprar uma sweat shirt muito gira com um desenho estilizado do dito puto. Não foi particularmente cara e acho-a bastante gira e minimalista, no fundo, pelo que acho que fiz um negócio razoável e fico com uma recordação engraçada de Bruxelas. Começava então a aproximar-se a hora de voltar para o Atomium, junto ao qual está também o IMAX (cinema) que afinal de contas era a razão da nossa vinda a Bruxelas. Mas antes não queríamos ir ver o filme sem comer mais nada. A minha ideia era comer uma waffle, para experimentar as verdadeiras waffles da Bélgica mas acabei por optar por um gelado no quiosque australiano, onde também vendiam waffles. Isto porque a fritura toda do almoço tirou-me o apetite por muitas e boas horas e sentia que o gelado seria mais leve. Escolhi uma bola com sabor a Praliné/Hazelnoot e não era mau. O problema é que o Tiago comprou uma waffle só com açucar por dentro, eu provei e fiquei por minutos a rogar pragas a mim mesmo por ter optado pelo gelado. Aquilo é mesmo bom. Memorando para o futuro: provar sempre o que é típico do país onde estou.

O tempo começava a escassear e a viagem de regresso no metro demoraria ainda cerca de 20 minutos. Metemo-nos a caminho, tivemos de esperar ainda uns 10 minutos pela próxima carruagem na estação central que nos levasse para o ponto de partida no Atomium. Ainda tive de ir ao carro buscar os oculos e qualquer coisa para vestir (esqueci-me do casaco por isso a sweat shirt nova tinha de servir se fosse preciso) e comprámos os bilhetes, faltavam 5 minutos para começar o filme. O IMAX é uma sala à parte (até pelo preço dos bilhetes, 10 euros cada um...) e para lá nos dirigimos. De facto, o tamanho do ecrã assim que entrámos é qualquer coisa de impressionante. São metros e metros de tela. A sala é extremamente íngreme, numa configuração bastante diferente das salas convencionais e procurámos um lugar mais de topo e ao centro. Assim que começa a demonstração do IMAX, ficámos imediatamente a delirar. Todo aquele ecrã com imagem projectada é maravilhoso e uma experiência única. Infelizmente, o balde de água fria veio logo a seguir quando a projecção do filme propriamente dito estava afinal num vulgar 16:9 widescreen (talvez 2.35:1?) que não aproveitava uns 3 metros por cima e por baixo. Mesmo assim, a maneira como o sala está feita permite-nos estar mesmo "dentro" do filme e apesar de não ter sido IMAX no seu esplendor total, já não foi nada mau. O filme em si foi o "Spider-Man 2" que embora não tivesse sido nenhuma obra-prima da sétima arte, é quanto a mim, e sendo um filme baseado num herói de banda desenhada, bastante bom.

Após o filme regressámos a casa, em Schoten, via E19 como habitualmente, não sem antes parar logo ali no topo da avenida do Atomium para tirar uma fotografia à noite, com a iluminação, e que também consta das fotografias do dia. Regresso a casa sem qualquer tipo de confusão desta vez, para passar cerca de uma hora a ler mais um pouco do "Ghost Rider" e do livro do Mourinho. Parece que já há um livro novo, escrito pelo mesmo tipo, pelo que estou em pulgas para regressar a Portugal, comprá-lo e bebê-lo todo de uma só vez. E será já terça-feira que regresso às agruras do dia-a-dia, na pátria-mãe, bem cedo.

Amanhã, segunda-feira, jantar em Antuérpia com um dos meus mais antigos conhecidos do #champman na EFnet, o Yalcin e fazer as malas para o regresso a Portugal, com saída de casa marcada para cerca das 5 da manhã, ugh.

PS - Uma nota para a minha prima Célia que hoje (se tudo correu como planeado!) se casou. Ela tinha-me convidado para o casamento mas esta viagem inviabilizou esses planos. Espero que tudo lhes corra bem, que se dêem sempre bem (ou quase sempre) e que, no fundo, possam ser felizes. Parabéns!




Atomium

Saturday, September 04, 2004

Sábado, 4

Acordar mais uma vez a meio da manhã (o corpo não dá para tudo) e mais uma vez uma tijela de Chocapic ao pequeno-almoço - energia para o dia que se seguiu. Os pais do Samuel e da Sarah foram com os miúdos para um parque de diversões algures na Holanda pelo que eu e o Tiago ficámos por nossa conta desde manhã cedo. Aproveitei ainda o final da manhã para um breve passeio de bicicleta em que a idade era refazer o percurso que fiz na tarde do primeiro dia que cá estive. Lamentavelmente falhei e apenas me lembrava exactamente do caminho até ao parque. Como também já não era propriamente cedo, decidi voltar para casa pelo mesmo caminho e procurar o almoço.

O plano do dia era a viagem a Amesterdão e apenas o facto de ainda não termos almoçado e de a minha maquina fotográfica estar ainda a carregar baterias (a fim de evitar dissabores como na visita do dia anterior a Antuérpia em que fiquei sem espaço no cartão de memória e praticamente sem bateria). Almoçámos uma tijela de sopa e o resto do jantar de ontem - que continuava muito saboroso - e demos uma vista de olhos no mapa de Amesterdão para ficarmos com uma melhor ideia da configuração da cidade e da localização do que queríamos visitar. Pontos de interesse à partida:

a) Amesterdam ArenA - o estádio do Ajax
b) Red Light District (à noite, senão nem valia a pena)
c) uma parada de flores que supostamente chegaria à cidade por um canal a meio da tarde
d) O centro histórico da cidade em geral

Destes apenas ficou por ver a tal exposição de flores. Feitos os escassos preparativos necessários, metemo-nos no carro e fizémo-nos à estrada, não sem antes voltarmos atrás poucos metros depois porque esta cabeça se esqueceu da máquina fotográfica em casa. Recuperado o precioso item, lá nos pusémos a caminho da capital da Holanda.

A ideia era sair da Bélgica através da auto-estrada E19 que atravessa o país de um lado ao outro e conduz a território Holandês. Amesterdão fica sensivelmente a norte de Schoten (onde estamos e de onde partimos) pelo que não havia muito que enganar. A primeira cidade holandesa de relevo que vimos indicado e pelo qual passámos (ainda que ao largo) foi Breda. Pouco depois dava-se a surpresa desagradável do dia. A cerca de 60 km de casa, a E19 estava cortado ao trânsito e fomos desviado para uma auto-estrada diferente que supostamente seria agora o caminho certo para Amesterdão. O problema é que esta via foi dar um ridículo cruzamento com inúmeros semáforos, um para uma das quatro ou cinco faixas que compunham o cruzamento e isto inevitávelmente redundou numa fila estupidamente grande. O resultado final foi que passámos mais de uma hora praticamente parados. De cada vez que o nosso semáforo ficava verde, avançava uma média de dois ou três carros e nada mais. Finalmente lá entrámos noutra auto-estrada ainda (A27) e aí apesar de ainda existir tráfego intenso, rolava-se a boa velocidade e a viagem pôde prosseguir.

Parámos alguns minutos mais tarde numa bomba de gasolina para reabastecer - o gasóleo aqui já ultrapassa os 90 cêntimos - e para procurarmos um mapa já que este desvio saía do que o Tiago conhecia das viagens que já havia feito a Amesterdão. Afinal o caminho não tinha muito que enganar e lá seguimos viagem pela A27, que supostamente e de acordo com o mapa, haveria de ir dar à A2 que nos levaria até Amesterdão. Assim foi, e rapidamente avistámos o ArenA à nossa direita. Sabíamos já da leve pesquisa que fiz na Internet que o ArenA ficava a Sudeste da centro da cidade propriamente dito pelo que tudo acabou por bater certo. Entrámos nas imediações do estádio (segundo o Tiago, e eu concordo, o complexo do estádio faz lembrar bastante o nosso Parque das Nações) e procurámos maneira de entrar lá dentro para ver a coisa por dentro. Lamentávelmente foi-nos dito que já estava fechado e também a loja do clube já havia encerrado. Ou seja, fomos a Roma e não vimos o Papa. Felizmente esta foi talvez a única decepção do dia.

Tempo de seguir viagem para o centro da cidade. Seguindo à risca o mapa que levámos de casa connosco, e em conjunto com as indicações na cidade, facilmente chegámos ao centro e encontrámos um estacionamento subterrâneo onde pudemos deixar o carro e não nos preocuparmos com essa questão. Mais uma vez o mapa ajudou-nos a perceber que caminho haveríamos de tomar, agora a pé. Não foi difícil, Amesterdão provou não ser uma cidade complicada, bem menos que Lisboa por exemplo, sendo bem mais linear. Logo vimos inúmeras pessoas de um lado para o outro de bicicleta e seguimos viagem em direcção aos sítios principais. Junto ao museu da cera Madame Tussaud (que não visitámos, não era nossa ideia visitar museus nem monumentos nem nada que se lhe assemelhasse), demos com uma loja de música e DVDs que se revelou uma autêntica maravilha e um regalo para os olhos. Ao entrar, a minha ideia era de fazer uma rápida visita, talvez procurar o DVD de Opeth que tantas dores de cabeça me tem dado. A procura da secção de Metal levou - felizmente! - a percorrer toda a loja. E toda a loja, significou três pisos, com secções para todos os estilos de música possíveis e imaginários. Salas e divisórias apareciam de todos os lados, incluíndo duas salas enormes dedicadas a filmes em DVD. Optei por não me pôr à procura de nada, senão já se sabia que a desgraça seria total e económicamente não estou no meu auge, digamos assim. Dei ainda com uma secção de posters, tanto de música como de cinema, e encontrei exactamente o poster que queria do Shawshank Redemption, do Tim Robbins com os braços abertos à levar com a chuva, uma das mais marcantes cenas do filme. Nesta altura ainda não tinha encontrado a secção de metal pelo que decidi perguntar a um dos empregados onde era, já que me custava imenso a acreditar que não existisse, era inconcebível. O tipo foi cinco estrelas a responder, com uma jovialidade impressionante - aliás como toda a gente com quem interagi na Holanda até agora - e disse-me que o metal estava na sala a seguir à música clássica. Atravessámos a secção de clássica - muito calma, como se pretende, com tons muito claros e sossegados, música ambiente do estilo - e empurrámos a porta que dava acesso ao metal, talvez a sala mais recôndita de toda a loja. Foi incrível a mudança. Sala mais escura, música pesadíssima mas tudo impecável e excelente. Infelizmente a empregada que lá estava informou-me que o DVD de Opeth está esgotado, pelo que começo a pensar que está esgotado mesmo a nível mundial. Vimos ainda assim discos que nunca na minha vida tinho visto em versão original, nomedamente o "An Evening With..." do John Petrucci e do Jordan Rudess. Não comprei nenhum, mas regalei a vista e a carteira agradeceu.

Seguimos viagem pelas ruas da cidade e entrámos num par de lojas de recordações. Aproveitei para comprar um íman com um moinho típico da Holanda que vai direitinho para os avós meterem no frígorífico deles que ao contrário do nosso consegue agarrar os ímanes. Ainda pensei em comprar uma t-shirt, havia muitas (muitas!) girissimas, mas optei por não o fazer, já que nenhuma me encheu completamente as medidas, mas seja como for ainda vou a Bruxelas e talvez lá as coisas se passem de outra maneira. Entretanto, a barriga dos dois começou a dar horas e começámos a deitar o olho aos restaurantes. Estávamos ambos numa onda de comer pizza e ao passarmos na segunda pizzaria que vimos, a nossa cara de indecisos comprometeu-nos imediatamente. O tipo que estava na esplanada a pescar clientes (que tanto podia ser espanhol, como mexicano, como venezuelano como um monte de outras nacionalidades) percebeu logo que não sabíamos exactamente o que queríamos e convenceu-nos logo ali. É porreiro jantar em Amesterdão, num belo e ameno fim de tarde, numa esplanada a ver tanta gente diferente a passar à nossa frente. Pedimos duas pizzas, uma Hawaii (com ananás, tomate, queijo e fiambre) e uma Vegetariana (com pimentos, azeitonas, cogumelos, tomate e queijo, pelo menos) e acabámos por comer cada um metade de cada pizza. Acho que no final, o consenso é que a pizza Hawaii era a melhor das duas. Os empregados que vieram à nossa mesa, como habitual, não podiam ser mais divertidos e bem dispostos, especialmente o que nos pescou e o que nos trouxe a conta. Escusado será dizer que pagámos os olhos da cara pelas duas pizzas e uma garrafa de água de litro e meio, mas também não é todos os dias que se janta em Amesterdão.

Entretanto, pelo facto de termos ficado presos na fila ao meio da tarde, acabámos por não ver nenhuma parada de flores na cidade. Restáva-nos então o último ponto de interesse e curiosidade - o Red Light - e estava na hora, pois havia entretanto começado a escurecer, perto das nova horas da noite. O sítio dispensa grandes apresentações já que é talvez o maior cartão de visita de Amesterdão e posso dizer que é totalmente, como lhe gosto de chamar, a Quinta Dimensão. Ou seja, é um mundo completamente à parte de tudo o resto. Há quem diga que o fruto proíbido é sempre o mais apetecido e provavelmente a Holanda ganha em muitas frentes ao ser tão liberal nas questões das drogas leves e da prostituição. Do que vi, parece-me que toda a situação se regula a si própria e a sensação com que fico é que aqui existe muito menos problemas do que por exemplo na cidade de Lisboa. Mas de longe. Senti-me (e isto com toda a sinceridade) mil vezes mais seguro a percorrer a pé todo o Red Light e muitas das ruas de Amesterdão à noite do que me sentiria em qualquer rua de Lisboa, especialmente dos correspondentes bairros "da noite". E isto apesar de por três vezes (duas delas ainda em plena luz do dia) ter tido um preto a oferecer-me ecstasy e cocaína, sem qualquer tipo de persuasão. Quer, quer, não quer, não quer. Nada das cenas que por vezes vemos em Portugal. Aqui as coisas são assim, só cá vem quem quer e quem não quer a nada é obrigado. Claro que acaba por redundar numa imensa atracção turística, até porque acabei por ver inúmeras senhoras de idade muito divertidas a ver as montras (que não tinham lá dentro, como se sabe, propriamente roupa nem sapatos para comprar mas antes raparigas a piscarem o olho a potenciais clientes), passando até por uma visita guiada de um numeroso grupos de chineses. E claro, provavelmente vimos gente de mais de metade do Mundo. Foi sem dúvida uma experiência bem interessante que, mais que não seja, nos faz encarar o nosso próprio mundo com outros olhos.

E era assim tempo de regressar à base, a Schoten. Encontrámos o caminho certo (A9, A2 e A27) sem grande dificuldade mas íamos os dois a passar por sono quando já mesmo ao pé de Schoten não nos apercebemos da saída da auto-estrada. Resultado, entrámos no Ring (espécie de CREL ou CRIL que existe nas grandes cidades) de Antuérpia e como grande parte está em obras, muitas saídas estão cortadas pelo que ficávamos inibidos de fazer imediatamente meia-volta. Andámos ainda alguns kilómetros até uma saída que nos era de todo desconhecida, apenas para voltar a entrar noutra auto-estrada que não fazíamos a mínima ideia de onde ia dar. Como até gosto de me perder, não estava mínimamente preocupado, era apenas o incómodo de chegar a casa um pouco mais tarde já que acabaríamos certamente por regressar ao caminho certo, mais cedo ou mais tarde. Mas não pude deixar de pensar no stress que isto seria para o pai, ver-se perdido algures entre Bruxelas e Antuérpia, à meia-noite, em estradas que não sabia onde iam dar. Lá encontrámos então indicações para localidades vizinhas de Schoten e sem saber como fomos dar a um sítio que o Tiago acabou reconhecer, perto dos cinemas onde estivémos no dia anterior. Chegada a casa, ainda a tempo de colocar algum gelo mais na perna, que infelizmente - e como já era de calcular - não achou muita piada a andar uma série de horas a pé em Amesterdão.

Amanhã, Bruxelas, o puto a mijar e o IMAX!

Friday, September 03, 2004

Sexta, 3.

O dia ontem foi longo pelo que o sono hoje se estendeu manhã dentro. Depois de um rápido pequeno-almoço e de uns minutos de CM, fomos de bicicleta a uma espécie de Bio Shop que existe aqui em Schoten. É uma coisa impressionante, pois nunca vi uma loja de produtos naturais de tais dimensões. A única coisa que se assemelha a isto em Portugal é a BioCoop e mesmo assim pouco tem a ver. Isto é um autêntico supermercado biológico com tudo e mais alguma coisa, desde dezenas de tipos de massa diferentes, passando por inúmeros hambúrgueres vegetarianos (de cogumelos, espinafres, lentilhas, etc..) diferentes, e claro o leite de soja, os iogurtes, os sumos, legumes e tudo o mais. Acabei por não comprar nada pois tínhamos planeado ir também ao hipermercado aqui da zona e talvez lá houvesse o que eu queria - leite de soja, principalmente - e fosse mais barato. É que aqui as coisas não são propriamente dadas...

No hipermercado encontrei imediatamente os pacotes de leite Alpro que queria e aproveitei para comprar pasta dos dentes, pacotes pequenos de leite com chocolate (também Alpro) e também a pechincha do dia. Também aqui se vendem DVDs e CDs audio nos hipermercados e logo neste fui encontrar a edição especial de coleccionador do "Era Uma Vez no Oeste", do Sergio Leone. O melhor de tudo é o preço, que não chegou a 12 euros, sendo sensivelmente um terço do preço que vi na FNAC do Colombo, em Portugal.

De volta a casa, para almoçar o resto do jantar de ontem. Após mais uma horazita de CM, no quarto, saí com o Tiago para Antuérpia. Apanhámos hora de ponta pelo que uma viagem de 6 kms acabou por demorar cerca de meia hora. Lá chegámos e a cidade, para mim, dificilmente poderia ser mais agradável. Inúmeros bares e restaurantes, um ambiente agradável pontuado pelos sinfonia dos sinos da Catedral de Antuérpia e muita gente nas ruas. Quando chegámos, vimos um enorme navio de guerra atracada no porto da cidade e provavelmente estaria relacionado com uma parada militar - pelo menos, é o que julgo ser - que estava prestes a começar no centro da cidade, perto da dita Catedral e com inúmeras pessoas a ver sentadas em enormes bancadas especialmente instaladas para o efeito. Do passeio que demos, convém ressalvar um bar no mínimo original cuja sua decoração interior são inúmeros santos diferentes. Significado? Motivo? Não o sei.

Depois de algum tempo a ver as vistas e de tirar algumas fotografias, era tempo de regressar a Schoten. O plano para hoje era regressar à cidade (no caso, aos seus arredores) para ir à noite ao cinema ao Metropolis. Após o regresso a casa antes do jantar, tive oportunidade de me ligar ao IRC e falar com o Yalcin para saber da disponibilidade dele para jantar connosco em Antuérpia na segunda à noite. Aparentemente ele estava a planear regressar a casa (na Holanda, ele só está a estudar cá) precisamente na segunda à noite, pelo que ficou de ver o que era possível fazer em relação a isso. Amanhã à noite vou tentar falar com ele de novo.

Após um duche rápido, jantámos um extraordinário prato à base de salmão e massa. Confesso que não faço a mínima da composição do molho que envolvia a pasta e o peixe, mas lá que sabia bem e eu repeti, disso não hajam dúvidas. Saímos então para Antuérpia novamente, desta vez sem o trânsito calamitoso de hoje à tarde, e rapidamente chegámos ao Metropolis. Tínhamos decidido ir ver o "I, Robot", com o Will Smith e a Bridget Moynahan, em formato digital. Eu nunca tinha visto um filme neste formato e posso bem dizer que é impressionante e extremamente agradável. Facilmente encontrámos lugar para o carro e entrámos nas instalações. Aqui as coisas funcionam de forma um pouco diferente. Ao comprarmos os bilhetes na bilheteira é-nos dada uma folha contendo um código de barras e a descrição dos bilhetes que acabámos de adquirir. Só mais tarde, quando nos dirigimos para as salas propriamente ditas é que fazemos então uso desse código de barras de forma a tirar os bilhetes "reais" a partir de umas máquinas concebidas para o efeito. Antes disso ainda fui ver umas quantas estantes ao lado das bilheteiras com inúmeros DVDs para venda e, apesar de muitos títulos interessantes lá estarem, as compras nesse departamento para mim já estavam feitas por hoje.

O filme em si começou às 22.30 e como já disse antes, a qualidade da imagem (e também do som) é fantástica. De facto é tal como o Tiago tinha dito há dias: é como ver um DVD em ecrã de cinema. O filme em si é uma adaptação da estória com o mesmo nome da autoria de Isaac Asimov, um dos três grandes mestres da história da Ficção Científica. Trata da relação tensa entre robots e humanos numa imaginária sociedade futurista de 2035, em Chicago. Os robots regem-se (supostamente) pelas Três Leis da Robótica, da autoria do próprio Asimov, mas a dedução lógica desse conjunto de leis acaba-se por se tornar comprometedor como no filme se vê. Infelizmente, e apesar de vários pontos de interesse, o filme tende a perder-se em inúmeros efeitos especiais que se pretende arrebatadores (e que o são de facto, enquanto meros efeitos especiais) mas que acabam por ofuscar o significado mais profundo da estória. E tenho a certeza que Asimov não imaginou o Detective Del Spooner como a espécie de potencial "rapper" que Will Smith interpreta. Apesar disso, as interpretações não são nada más e há clássicos tirados do papel e levados para o grande ecrã que são bem piores ("Battlefield Earth", da estória de L. Ron Hubbard, também no campo da ficção científica é um bom exemplo disso).

E pronto, de volta a casa, para apanhar ainda um pouco do discurso do George Bush na Convenção Republicana. É um autêntico espectáculo de tarados. Todo aquele discurso de circunstância, todos os maluquinhos a aplaudir incessantemente, o palhacinho a fazer escárnio do seu adversário político e todo a propaganda de que os Estados Unidos zelam pela segurança não só de si próprio mas também de todo o Mundo. Será que foi também a pensar na segurança de todos nós que o Estados Unidos entenderam por bem serem a primeira (e única) nação do Mundo a lançar uma bomba atómica (duas!) sobre outra civilização matando milhões de inocentes?

E amanhã é dia de ir a Amesterdão.



A Catedral de Antuérpia

Thursday, September 02, 2004

Quinta-Feira, 2

E chega pois o dia da partida para a Bélgica. É a primeira vez em largos meses (anos?) que me levanto da cama ainda com a noite lá fora. Ainda assim, não tardou a amanhecer e um banho rápido despertou-me para as novidades que se seguiriam. Já estava praticamente tudo arrumado desde ontem, pelo que foram rápidos os últimos preparativos antes de seguir viagem para Lisboa. Surpreendentemente, e tendo logo que me levantei notado que a estrada lá fora estava molhada, a viagem até ao aeroporto foi quase toda ela feita debaixo de uma chuva intensa que só abrandou mesmo à entrada da cidade. Apesar de todas preocupações (ou não) com o trânsito, não tivemos qualquer problema e facilmente chegámos ao aeroporto. Era agora tempo de me iniciar no ritual pré-viagem de avião que nunca antes havia feito na totalidade. Já tinha deixado o Jarkko uma vez junto ao check-in e hoje acabei por me relembrar de vários sítios do aeroporto à custa disso.

Chegámos ao balcão de check-in na hora certa. Nem demasiado cedo, nem demasiado tarde, já que cinco minutos depois de lá estarmos a fila dobrou de comprimento. Rapidamente nos chegámos à frente. Afinal de contas a mala de viagem que trouxe é demasiado grande segundo os regulamentos da Virgin Express e tive que a despachar através do serviço de bagagens. Por um lado isto significava algum atraso em Bruxelas, à espera da dita, mas por outro elucidar-me-ia para o procedimento e deixaria assim de ser novidade. Ainda tentámos em seguida obter leitura à borla, mas acabámos por voltar do quiosque de mãos a abanar já que a Virgin Express não fornece esse tipo de serviço aos seus passageiros. Afinal de contas, como é que de outra forma seria possível vender bilhetes de avião tão baratos quanto 49 euros?

Depois de queimarmos algum (pouco) tempo, foi tempo de me despedir do pai e atravessar o portão para passageiros apenas. Não deixa de ser interessante o facto de que a viagem para Bruxelas acaba por ser, mais coisa menos coisa, da mesma duração de uma viagem ao Porto. E o meio de transporte até é provavelmente mais segura. Por isso, com a Europa dos agora 25, e com a livre circulação de pessoas e bens, aliado à evolução dos meios de transporte aéreos nos últimos permite-me acordar na minha caminha em Torres Vedras e ainda almoçar descansadamente uma bela sopinha em Schoten, Antuérpia, Bélgica. Maravilha. Mas onde é que já vou? Ainda estávamos em Lisboa e por enquanto a viagem não é instantânea, portanto vamos regressar novamente onde íamos.

Após passar o dito portão com acesso exclusivo aos passageiros deparei-me com inúmeras lojas de conveniência, restaurantes, tabacarias e cafés. De facto o aeroporto é um mundo do qual nem nos damos conta quando inúmeras vezes lhe passamos ao lado, a 100 km/h, ao longo da Segunda Circular. Acabei por não comprar pastilha elástica como a mãe me havia recomendado e também acabei por não comprar a Bola. A literatura que levava comigo - o livro do Neil Peart e o livro do Mourinho - teriam de servir. Escolhi levar estes livros comigos por duas razões distintas embora com a mesma finalidade. No caso do livro do Neil Peart, trata-se de uma estória solitária e reconfortante. Também eu era naquele momento um viajante solitário - embora acompanhado de outras dezenas de pessoas no avião. Por outro lado, o livro do Mourinho é o livro mais familiar que tenho, o que mais me lembra de casa e com o qual mais me identifico. Enfim, no fundo, uma sensação de familiaridade que, embora eu não estivesse receoso apesar da novidade da situação, sabe sempre bem. Passei então várias indicações no sentido da Porta 11, onde deveria dirigir-me para embarcar, por volta das 9.15. Pelo caminho, a famosa cena do detector de metais. Foi-me solicitado que colocasse o telemóvel, carteira e casaco dentro de um tabuleiro e também a minha mochila à parte, tudo em cima de uma passadeira rolante que passaria por dentro do tal detector. Como é evidente, nada foi detectado e segui então no caminho da última barreira. Ao chegar à porta 11, exactamente às 9.11, foi-me cortado o bilhete, desci dois lanços de escadas até ao nível da pista e embarquei imediatamente num autocarro (transfer?) que me levaria até à porta do avião. Uma curta espera, até encher o veículo, e partimos na direcção do "monstro". Tratava-se de facto de um Boeing 737, da Virgin Express, que não sendo muito grande, impunha sempre o seu respeito, com os seus enormes reactores. Mais uma espera não muito longa dentro do autocarro e eis que se abrem as portas. Pudemos então subir as escadas do avião e receber as boas-vindas da supervisora das hospedeiras de bordo, a Chantal (segundo o crachat que trazia ao peito). Facilmente encontrei o meu lugar a bordo e lamentavelmente não era à janela, como se previa - havia-me esquecido de o pedir no check-in, algo que fica para a próxima - mas sim junto ao corredor. Mesmo assim não ficava longe da janela e podia ver bastante bem o que se passava lá fora.

Uma vez toda a gente instalada e acomodada, foi-nos apresentado muito brevemente o procedimento de segurança e de emergência, tal como o famoso colete salva-vidas ou a máscara de oxigénio que automáticamente pende do tejadilho no caso da pressão dentro da cabina descer a um nível demasiado baixo. Não posso dizer que a tensão tenha sido muito intensa já que algo supreendentemente nunca estive demasiadamente preocupada, mesmo sendo a primeira viagem de avião, mas os momentos após o avião se começar a movimentar, ainda que lentamente, foram diria eu os mais excitantes. Sobretudo pelo facto de tudo ser novidade e não fazer a mínima ideia dos detalhes respeitantes à decolagem e à aterragem. Depois de uns minutos a seguir em marcha lenta (mais tarde apercebi-me que serviram para perfazer o caminho até à recta de decolagem propriamente dita) que se revelavam intermináveis, chegámos pois ao momento decisivo. O avião parou e começou novamente a andar em ritmo lento. Já me questionava eu acerca de todo o procedimento quando de repente sou "atirado" contra o banco, olho pelas janelas e vejo a paisagem a passar a uma velocidade cada vez maior. Bem dizia o Tiago que me iria sentir impressionado com a aceleração do bicho. Assim sim, era possível descolar e foi o que aconteceu. Não vou esquecer a sensação de leveza quando deixei de sentir as rodas em contacto com o solo e também não devo esquecer tão cedo (relembrá-lo-ei na próxima terça-feira, certamente) a desorientação e a depressão no estômago que senti cada vez que o avião balançava a ganhar altitude. Ver Lisboa, ainda que de uma perspectiva absolutamente espectacular, mas completamente de lado, num ângulo esquisitíssimo, também não ajudava nada.

Mas rapidamente as coisas estabilizaram e foi tempo de tirar o livro do Mourinho cá para fora e voltar a ler mais uma vez os relatos da sua passagem por Leiria, há três anos atrás. O voo decorreu nas duas horas e meia seguintes sem problemas de maior, apenas alguma trepidação aqui e ali mas nada que chegasse para assustar. Assustador, no bom sentido, foi ouvir da boca do nosso capitão que a temperatura exterior, numa altura que sobrevoávamos o norte de Espanha era de -32ºC! Houve ainda tempo para conhecer a casa de banho do avião e para ficar intrigado com o facto que de cada vez que a hospedeira-chefe falava aos passageiros, bem como o capitão, parecia falar muito mais em francês do que em inglês. Isto apesar de supostamente dizer a mesmíssima coisa. Senti-me um pouco como o Bill Murray no "Lost in Translation" quando chega ao Japão e a sua tradutora de serviço traduzia em meia dúzia de palavras o que o produtor japonês dizia em mais de uma centena.

Depois de ler então os episódios do Mourinho em Leiria e mais umas páginas do "Ghost Rider" do Neil Peart, era hora de aterrar em Bruxelas. Cintos de segurança apertados e lá se iniciou a descida gradual para o aeroporto. A maior diferença que notei de imediato foi a paisagem. Enquanto o nosso país é extremamente acidentado, com inúmeros montes, maiores e mais pequenos, a Bélgica é completamente plana. E quando digo completamente, digo-o com um traço de sublinhado por baixo. É que ainda não vi uma única elevação de terreno sequer. De resto, do ar, o território Belga, pelo menos nas imediações de Bruxelas é uma tapeçaria lindíssima de terrenos cultivados e de dispersas povoações e aglomerados habitacionais. É uma diferença enorme para o que estou habituado e ainda mais haveria de sentir isso quando mais tarde chegasse a Schoten. A aterragem era no fundo o que mais apreensão me causava por desconhecer de todo o procedimento. Afinal de contas, é o impacto do avião com o chão. No fim acabou por ser, quanto a mim, o mais suave possível e a travagem não menos impressionante que a aceleração em Lisboa. A pouco tensão que se havia instalado em mim de repente desapareceu e era tempo de desentorpecer as pernas. E que belo desentorpecimento haveria de ter dali a minutos!

Cinco minutos depois estava já a pé e fora do avião. Era tempo de recuperar a minha mala de viagem e de me encontrar com o Tiago. Além disso, era tempo de contactar com os velhotes em Portugal que haveriam de querer saber notícias minhas. Enquanto seguia as intermináveis indicações de Saída/Bagagem, tentei ligar mas as primeiras tentativas saíram frustradas. Era agora 13.40, hora de Bruxelas (menos uma em Portugal), e já tinha uma mensagem no telemóvel (que acabara de voltar a ligar, já que é expressamente proíbido o seu funcionamento durante o voo) para ligar logo que possível. Lembrei-me que se calhar era melhor usar o prefixo internacional de Portugal (+351) e então tive sucesso. Contactos feitos e fazendo saber que não podia estar melhor, era altura de ir buscar a bagagem. Depois de subir e descer escadas rolantes até ao fim do mundo, cheguei aos tapetes rolantes onde se faz o que agora chamo de "passagem de modelos das bagagens". Existiam vários tapetes diferentes e fiquei na dúvida em qual poderia estar a minha mala. Isto proporcionou-me o primeiro momento de barraca do dia. Perguntei a uma rapariga, também passageira, que me apercebi falava português, como poderia saber ao certo em que tapete estaria a minha bagagem, ao que ela responde que se eu vinha também de Lisboa, seria no tapete 3 mas que poderia ver nos monitores. Os monitores! Tantos monitores pendurados no tecto com toda a informação e eu feito parvo às voltas à procura sabe-se lá do quê. Serviu-me de lição. Finalmente, ao fim de uns dez minutos, lá apareceu a minha Samsonite, não sem antes ter pegado noutra igualizinha por engano que afinal pertencia a um tal Tito... Depois disso, a saída de passageiros era logo ali à frente e deparei-me imediatamente com a já clássica cena do aglomerado imenso de pessoas de olhos postos na porta de saída, a brilhar à espera dos seus familiares, amigos ou colegas. O Tiago também lá estava e imediatamente me viu, pelo que feito o reencontro nos encaminhámos para o carro, finalmente na direcção de Schoten, com os pés (pneus?) agora já bem assentes no chão.

Chegámos a Schoten, e o espanto foi enorme. Não tem nada a ver com Portugal. Esqueçam os prédios de mil andares que proliferam por Lisboa, Porto e outras cidades do nosso país. Aqui as casas são todas iguais, todas em tijolo muito bem arranjado e todas alinhadas ao longo de ruas lindíssimas que, pegando nas palavras do Tiago, parecem tiradas de um qualquer livro do Harry Potter. O sossego em Schoten é tal que impressiona e posso mesmo dizer que, apesar do meu conhecimento em termos de viagens ser muito reduzido, nunca vi melhor sítio para viver do que aqui. Toda a gente, tem a sua garagem, a sua caixa do correio é frente do pequeno jardim ou canteiro e um quintalzinho nas traseiras. Para além disso, os passeios para bicicletas são omnipresentes e também aqui a bicicleta é o meio de transporte de eleição. É uma cultura completamente diferente, recheada de pequenos pormenores, que fazem deste país algo único e extremamente distinto de Portugal. Não só em aspecto mas sobretudo em mentalidade. Mas sobre isso, outro dia falarei mais.

Almoçámos uma sopa (muito boa, de resto) e pão com queijo que o Tiago me trouxe da P&G onde trabalhou até hoje (e espera-se que volte para o ano!). Entretanto a Filipa foi buscar o Samuel (Samemel para os amigos!) e alegria dele é contagiante. Estivémos a brincar com ele no quintal e seguimos, de bicicleta como convém, para o parque de Schoten, a escassos metros de casa. Deixámos o Samuel com a mãe a brincar alegremente no parque de diversões, nos escorregas e afins, e eu e o Tiago seguimos de bicicleta a conhecer mais do parque e dos arredores. Estando o tempo tão bom como hoje - sol, céu limpo e temperatura amena, aparentemente uma raridade por aqui - quem é que precisa de carro quando existem tão boas condições para pedalar? Fomos dar a um dos canais que por aqui abundam e foi lá que vimos barcos que são, de facto, moradias de gente! Autênticas habitações marítimas, completas com janelas e os respectivos cortinados e até o carro da família no topo do barco! Algo que seria se calhar absurdo em Portugal. Começou então a dar a fome e a sede aos dois, sendo então tempo de regressar à base para um retemperador lanche. Aproveitei então para colocar fazer algum gelo na perna lesionada e logo depois disso vim então ao computador instalar o CM a partir do CD-ROM que trouxe de Portugal. Entuasiasmei-me com um jogo que comecei ontem no Benfica depois de ter sido despedido do Chelsea. Decidi experimentar construir uma equipa é volta de veteranos que estão sem clube na base de dados do jogo e ver como jogavam todos em conjunto. Então contratei a custo zero jogadores como Luis Enrique, Alexander Mostovoi, Marc Overmars, Oliver Bierhoff, Fernando Couto, David Batty, Kinkladze ou Abel Xavier. E não é que se estão a dar optimamente bem e a fazer uma carreira notável na Liga dos Campeões? Deve ser a experiência que lhes é conferida pela sua veterania... mas adiante!

Tempo de jantar, mais uma vez uma óptima sopa e o que me pareceu ser um arroz de frango que estava bastante bom, a juntar a algum sumo de maçã (applesap em holandês, já sei uma palavra!) e um Ice Tea manhoso com gás, que acabei só por provar.

E eis que chegamos ao presente momento, enquanto escrevo estas linhas. Amanhã há mais e prometo ser decididamente mais breve. Até lá fiquem com duas fotos que considero serem as Fotografias do Dia:







Wednesday, September 01, 2004

So the hard disk arrived and they got in touch with me to arrange for a technician to come over and install the base unit and hard disk on the laptop. And they tell me after business hours today so they won't be able to make it until tomorrow. Well, thanks a fucking bunch! A whole month to get here and then it'll come right after I depart to Belgium? Goddamn departure is at 09:50 and I'll have to be there at least an hour in advance, so there's just no chance of arranging for the laptop to be ready to take with me. No further comment on this issue, this is the supreme irony, really...

So tomorrow I'm leaving for a few days - until next Tuesday, in fact. The visible change to this blog is that the entries I happen to write while I'm abroad will be in portuguese, so the parents can read it properly. I'll try to get some pictures of the places I visit in the mix aswell. I've already packed most things and I'm pretty much ready to go. Up bright and early tomorrow morning for my first ever plane trip. Boooh.
These are crap days for me. Packing for a trip. I hate it.

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