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Saturday, September 04, 2004

Sábado, 4

Acordar mais uma vez a meio da manhã (o corpo não dá para tudo) e mais uma vez uma tijela de Chocapic ao pequeno-almoço - energia para o dia que se seguiu. Os pais do Samuel e da Sarah foram com os miúdos para um parque de diversões algures na Holanda pelo que eu e o Tiago ficámos por nossa conta desde manhã cedo. Aproveitei ainda o final da manhã para um breve passeio de bicicleta em que a idade era refazer o percurso que fiz na tarde do primeiro dia que cá estive. Lamentavelmente falhei e apenas me lembrava exactamente do caminho até ao parque. Como também já não era propriamente cedo, decidi voltar para casa pelo mesmo caminho e procurar o almoço.

O plano do dia era a viagem a Amesterdão e apenas o facto de ainda não termos almoçado e de a minha maquina fotográfica estar ainda a carregar baterias (a fim de evitar dissabores como na visita do dia anterior a Antuérpia em que fiquei sem espaço no cartão de memória e praticamente sem bateria). Almoçámos uma tijela de sopa e o resto do jantar de ontem - que continuava muito saboroso - e demos uma vista de olhos no mapa de Amesterdão para ficarmos com uma melhor ideia da configuração da cidade e da localização do que queríamos visitar. Pontos de interesse à partida:

a) Amesterdam ArenA - o estádio do Ajax
b) Red Light District (à noite, senão nem valia a pena)
c) uma parada de flores que supostamente chegaria à cidade por um canal a meio da tarde
d) O centro histórico da cidade em geral

Destes apenas ficou por ver a tal exposição de flores. Feitos os escassos preparativos necessários, metemo-nos no carro e fizémo-nos à estrada, não sem antes voltarmos atrás poucos metros depois porque esta cabeça se esqueceu da máquina fotográfica em casa. Recuperado o precioso item, lá nos pusémos a caminho da capital da Holanda.

A ideia era sair da Bélgica através da auto-estrada E19 que atravessa o país de um lado ao outro e conduz a território Holandês. Amesterdão fica sensivelmente a norte de Schoten (onde estamos e de onde partimos) pelo que não havia muito que enganar. A primeira cidade holandesa de relevo que vimos indicado e pelo qual passámos (ainda que ao largo) foi Breda. Pouco depois dava-se a surpresa desagradável do dia. A cerca de 60 km de casa, a E19 estava cortado ao trânsito e fomos desviado para uma auto-estrada diferente que supostamente seria agora o caminho certo para Amesterdão. O problema é que esta via foi dar um ridículo cruzamento com inúmeros semáforos, um para uma das quatro ou cinco faixas que compunham o cruzamento e isto inevitávelmente redundou numa fila estupidamente grande. O resultado final foi que passámos mais de uma hora praticamente parados. De cada vez que o nosso semáforo ficava verde, avançava uma média de dois ou três carros e nada mais. Finalmente lá entrámos noutra auto-estrada ainda (A27) e aí apesar de ainda existir tráfego intenso, rolava-se a boa velocidade e a viagem pôde prosseguir.

Parámos alguns minutos mais tarde numa bomba de gasolina para reabastecer - o gasóleo aqui já ultrapassa os 90 cêntimos - e para procurarmos um mapa já que este desvio saía do que o Tiago conhecia das viagens que já havia feito a Amesterdão. Afinal o caminho não tinha muito que enganar e lá seguimos viagem pela A27, que supostamente e de acordo com o mapa, haveria de ir dar à A2 que nos levaria até Amesterdão. Assim foi, e rapidamente avistámos o ArenA à nossa direita. Sabíamos já da leve pesquisa que fiz na Internet que o ArenA ficava a Sudeste da centro da cidade propriamente dito pelo que tudo acabou por bater certo. Entrámos nas imediações do estádio (segundo o Tiago, e eu concordo, o complexo do estádio faz lembrar bastante o nosso Parque das Nações) e procurámos maneira de entrar lá dentro para ver a coisa por dentro. Lamentávelmente foi-nos dito que já estava fechado e também a loja do clube já havia encerrado. Ou seja, fomos a Roma e não vimos o Papa. Felizmente esta foi talvez a única decepção do dia.

Tempo de seguir viagem para o centro da cidade. Seguindo à risca o mapa que levámos de casa connosco, e em conjunto com as indicações na cidade, facilmente chegámos ao centro e encontrámos um estacionamento subterrâneo onde pudemos deixar o carro e não nos preocuparmos com essa questão. Mais uma vez o mapa ajudou-nos a perceber que caminho haveríamos de tomar, agora a pé. Não foi difícil, Amesterdão provou não ser uma cidade complicada, bem menos que Lisboa por exemplo, sendo bem mais linear. Logo vimos inúmeras pessoas de um lado para o outro de bicicleta e seguimos viagem em direcção aos sítios principais. Junto ao museu da cera Madame Tussaud (que não visitámos, não era nossa ideia visitar museus nem monumentos nem nada que se lhe assemelhasse), demos com uma loja de música e DVDs que se revelou uma autêntica maravilha e um regalo para os olhos. Ao entrar, a minha ideia era de fazer uma rápida visita, talvez procurar o DVD de Opeth que tantas dores de cabeça me tem dado. A procura da secção de Metal levou - felizmente! - a percorrer toda a loja. E toda a loja, significou três pisos, com secções para todos os estilos de música possíveis e imaginários. Salas e divisórias apareciam de todos os lados, incluíndo duas salas enormes dedicadas a filmes em DVD. Optei por não me pôr à procura de nada, senão já se sabia que a desgraça seria total e económicamente não estou no meu auge, digamos assim. Dei ainda com uma secção de posters, tanto de música como de cinema, e encontrei exactamente o poster que queria do Shawshank Redemption, do Tim Robbins com os braços abertos à levar com a chuva, uma das mais marcantes cenas do filme. Nesta altura ainda não tinha encontrado a secção de metal pelo que decidi perguntar a um dos empregados onde era, já que me custava imenso a acreditar que não existisse, era inconcebível. O tipo foi cinco estrelas a responder, com uma jovialidade impressionante - aliás como toda a gente com quem interagi na Holanda até agora - e disse-me que o metal estava na sala a seguir à música clássica. Atravessámos a secção de clássica - muito calma, como se pretende, com tons muito claros e sossegados, música ambiente do estilo - e empurrámos a porta que dava acesso ao metal, talvez a sala mais recôndita de toda a loja. Foi incrível a mudança. Sala mais escura, música pesadíssima mas tudo impecável e excelente. Infelizmente a empregada que lá estava informou-me que o DVD de Opeth está esgotado, pelo que começo a pensar que está esgotado mesmo a nível mundial. Vimos ainda assim discos que nunca na minha vida tinho visto em versão original, nomedamente o "An Evening With..." do John Petrucci e do Jordan Rudess. Não comprei nenhum, mas regalei a vista e a carteira agradeceu.

Seguimos viagem pelas ruas da cidade e entrámos num par de lojas de recordações. Aproveitei para comprar um íman com um moinho típico da Holanda que vai direitinho para os avós meterem no frígorífico deles que ao contrário do nosso consegue agarrar os ímanes. Ainda pensei em comprar uma t-shirt, havia muitas (muitas!) girissimas, mas optei por não o fazer, já que nenhuma me encheu completamente as medidas, mas seja como for ainda vou a Bruxelas e talvez lá as coisas se passem de outra maneira. Entretanto, a barriga dos dois começou a dar horas e começámos a deitar o olho aos restaurantes. Estávamos ambos numa onda de comer pizza e ao passarmos na segunda pizzaria que vimos, a nossa cara de indecisos comprometeu-nos imediatamente. O tipo que estava na esplanada a pescar clientes (que tanto podia ser espanhol, como mexicano, como venezuelano como um monte de outras nacionalidades) percebeu logo que não sabíamos exactamente o que queríamos e convenceu-nos logo ali. É porreiro jantar em Amesterdão, num belo e ameno fim de tarde, numa esplanada a ver tanta gente diferente a passar à nossa frente. Pedimos duas pizzas, uma Hawaii (com ananás, tomate, queijo e fiambre) e uma Vegetariana (com pimentos, azeitonas, cogumelos, tomate e queijo, pelo menos) e acabámos por comer cada um metade de cada pizza. Acho que no final, o consenso é que a pizza Hawaii era a melhor das duas. Os empregados que vieram à nossa mesa, como habitual, não podiam ser mais divertidos e bem dispostos, especialmente o que nos pescou e o que nos trouxe a conta. Escusado será dizer que pagámos os olhos da cara pelas duas pizzas e uma garrafa de água de litro e meio, mas também não é todos os dias que se janta em Amesterdão.

Entretanto, pelo facto de termos ficado presos na fila ao meio da tarde, acabámos por não ver nenhuma parada de flores na cidade. Restáva-nos então o último ponto de interesse e curiosidade - o Red Light - e estava na hora, pois havia entretanto começado a escurecer, perto das nova horas da noite. O sítio dispensa grandes apresentações já que é talvez o maior cartão de visita de Amesterdão e posso dizer que é totalmente, como lhe gosto de chamar, a Quinta Dimensão. Ou seja, é um mundo completamente à parte de tudo o resto. Há quem diga que o fruto proíbido é sempre o mais apetecido e provavelmente a Holanda ganha em muitas frentes ao ser tão liberal nas questões das drogas leves e da prostituição. Do que vi, parece-me que toda a situação se regula a si própria e a sensação com que fico é que aqui existe muito menos problemas do que por exemplo na cidade de Lisboa. Mas de longe. Senti-me (e isto com toda a sinceridade) mil vezes mais seguro a percorrer a pé todo o Red Light e muitas das ruas de Amesterdão à noite do que me sentiria em qualquer rua de Lisboa, especialmente dos correspondentes bairros "da noite". E isto apesar de por três vezes (duas delas ainda em plena luz do dia) ter tido um preto a oferecer-me ecstasy e cocaína, sem qualquer tipo de persuasão. Quer, quer, não quer, não quer. Nada das cenas que por vezes vemos em Portugal. Aqui as coisas são assim, só cá vem quem quer e quem não quer a nada é obrigado. Claro que acaba por redundar numa imensa atracção turística, até porque acabei por ver inúmeras senhoras de idade muito divertidas a ver as montras (que não tinham lá dentro, como se sabe, propriamente roupa nem sapatos para comprar mas antes raparigas a piscarem o olho a potenciais clientes), passando até por uma visita guiada de um numeroso grupos de chineses. E claro, provavelmente vimos gente de mais de metade do Mundo. Foi sem dúvida uma experiência bem interessante que, mais que não seja, nos faz encarar o nosso próprio mundo com outros olhos.

E era assim tempo de regressar à base, a Schoten. Encontrámos o caminho certo (A9, A2 e A27) sem grande dificuldade mas íamos os dois a passar por sono quando já mesmo ao pé de Schoten não nos apercebemos da saída da auto-estrada. Resultado, entrámos no Ring (espécie de CREL ou CRIL que existe nas grandes cidades) de Antuérpia e como grande parte está em obras, muitas saídas estão cortadas pelo que ficávamos inibidos de fazer imediatamente meia-volta. Andámos ainda alguns kilómetros até uma saída que nos era de todo desconhecida, apenas para voltar a entrar noutra auto-estrada que não fazíamos a mínima ideia de onde ia dar. Como até gosto de me perder, não estava mínimamente preocupado, era apenas o incómodo de chegar a casa um pouco mais tarde já que acabaríamos certamente por regressar ao caminho certo, mais cedo ou mais tarde. Mas não pude deixar de pensar no stress que isto seria para o pai, ver-se perdido algures entre Bruxelas e Antuérpia, à meia-noite, em estradas que não sabia onde iam dar. Lá encontrámos então indicações para localidades vizinhas de Schoten e sem saber como fomos dar a um sítio que o Tiago acabou reconhecer, perto dos cinemas onde estivémos no dia anterior. Chegada a casa, ainda a tempo de colocar algum gelo mais na perna, que infelizmente - e como já era de calcular - não achou muita piada a andar uma série de horas a pé em Amesterdão.

Amanhã, Bruxelas, o puto a mijar e o IMAX!

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